8.1.10

A Garota de Vênus - Parte 3

Nunca lembro dos meus sonhos.
Tenho algumas lembranças vagas de alguns sonhos de infância, mas picotados ou fragmentados.
Jurava que o encontro com a garota de Vênus tinha sido realidade.
Me lembro de todas as sensações: do vento no rosto, do suspiro da queda, de cada detalhe de seu corpo maravilhoso.

Mas quando abri o olho, tava deitado na porra da minha cama.
Olhei pro relógio e fazia dez minutos que tinha ido deitar.
Dez minutos!
Impossível viver tanta coisa, tão intensamente em dez minutos.
Só podia ser um sonho.
A tristeza invadiu meu corpo pelas veias como se fosse um contraste que aplicam quando vamos fazer aquele teste do estômago.
Que merda!
Foi um sonho.
Eu sempre desejei lembrar dos meus sonhos, de todos os seus detalhes, dos significados.
Ficava com inveja das pessoas que mostravam seus caderninhos com os sonhos escritos como se fossem roteiros de cinema. Cada detalhe. Cada cena linda.

Tinha que acontecer comigo?
A coisa mais importante que já aconteceu na minha vida foi sonho.
Um sonho. Detalhado.
Não existem: garota de Vênus, vale, asa de boeing, leitura de mentes.
Nada.
Foi só um sonho.

Levantei e fui tomar um copo d’água.
Precisa fazer algo.
Mas não me vinha nada na cabeça.
Só sentia as sensações me atropelando sem piedade, enquanto não encontrava uma porra de um copo limpo na pia.
Peguei um copo com resto de iogurte e enfiei na torneira. Não importava que estava sujo. Nada importava.

E por um momento desejei não lembrar dos sonhos...

Um comentário:

disse...

Às vezes não foi um sonho.

A diferença entre o que é e o que não é realidade... é muito relativa.