31.1.10

Por que?

Assim?
Desse jeito?
Não pode ser diferente?
É difícil?
Pra quem não é?!
E agora?
Tô viajando?
Tô pirando?
Talvez?
Você não diz nada?
O quê eu faço?
O que eu fiz?
O quê eu deveria ter feito?
O que eu tô fazendo?
O quê eu vou fazer?
Faço ou não?
Sim?
Não?
Pra onde agora?
Pra quê?
Por que assim?
Por que assado?
Terça?
Quinta?
6 meses?
O quê tá acontecendo?
Acabou?
Tá começando?
Não vai falar?
O quê aconteceu?
Eu tô errado?
Onde você tá?
E eu?
Como?
Onde?
Quem?
Vai ser assim?
Sempre?
De vez em quando?
Não vai responder?
Eu mereço?
Pra onde?
Ahn?!
Vai?
De novo?
Não dói?
Desse jeito?
Você quer assim?
Você deseja assim?
Ou não quer?
Não sabe?
Quem sabe?!
Eu não?
Não consegue?
Não pode?
Não tem?
O quê você quer?
Não sabe?
Escolheu?
Não?
Vai escolher?
Não sabe?
Quer?
Não quer?
Tô pirando?

Não precisa responder.

O Silêncio...

...pode ser sinônimo de paz ou guerra.
Às vezes, ele tá recheado de perguntas sem respostas - e perguntas sem respostas levam ao confronto.
A atmosfera da paz é constituída de respostas. Nem sempre boas, mas respostas.
O silêncio é confuso.
Confunde a gente.
O silêncio machuca.
Fico pensando nas vezes que silenciei - quanta maldade!
O silêncio é uma faca pontuda prestes a ser enfiada na base da nuca.
O silêncio presupõe barulho: interno.
É inferno também.
O silêncio não é fácil.
Preciso de um pouco de barulho.

29.1.10

A Garota de Vênus - Parte 6

Foi mais um dia comum.
Através do furo no vidro do meu guichê, eu via dezenas, às vezes, centenas de pessoas, enfiarem seus documentos e boletos para que eu autenticasse.
Não é dos melhores trabalhos do mundo, mas pelo menos tenho assistência médica, vale refeição, vale transporte e um salário que dá pra pagar minhas contas e alugar uns filmes nos fins de semana.
Ah, e o banco tem um clube muito legal também.

Como eu tava dizendo: um dia comum.
Cinqüenta pessoas na fila e minha sinusite atacada pelo ar condicionado.
- Trinta e oito reais, senhora – disse sem olhar pra ela.
- Só isso, sua peste?
Silêncio.
Minha coluna ficou tão gelada quanto o palito de um picolé.
Não olhei.
Na hora pensei que pudesse estar louco.
Lembra quando eu disse que talvez estivesse esquizofrênico?!
- Sim, senhora – respondi secamente.
- Cacete, as coisas são tão baratas aqui na Terra. Em Vênus tudo é muito mais caro...
Olhei pro lado tentando buscar ajuda dos meus colegas de trabalho, mas todos sempre estão tão compenetrados em suas funções que é difícil até perguntar as horas.
- Será que eles vão ao banheiro? Eles almoçam? Como eles podem gostar tanto desse trabalho? – me perguntei, esquecendo por um segundo o que estava acontecendo.
Voltei meu olhar para o boleto de trinta e oito reais.
Fiquei em silêncio sem olhar pro vidro do guichê: olho no boleto, olho no monitor, olho no boleto, olho no monitor. Isso virou um mantra pra mim nesses poucos segundos.

De repente, a mão linda que um dia foi uma asa, invadiu a fresta abaixo do vidro e empurrou três notas de dez, uma de cinco e uma de dois reais até minha mão.

Um leve toque e pronto:

Minha coluna que havia se tornado um palito de picolé, começou a pegar fogo como aquelas cruzes onde queimavam as bruxas da Idade Média. Meus olhos começaram a arder tanto que achei que fosse chorar. O suor frio que descia da minha nuca em contato com a minha coluna em chamas proporcionava o maior show pirotécnico de todos os tempos. Meus sapatos pareciam que iam fugir, tamanho o tremor dos meus pés. Minha perna ficou tão mole que achei que só sairia daquela situação numa maca.
E tudo isso só porque ela encostou sua mão na minha.

Uma vez eu li que todo herói tem medo. A coragem é o enfrentamento do medo.
É claro que eu estava com medo.
Mas nunca fui um herói.

Mas algo em mim, que não sei explicar o que é, forçava meus olhos em direção ao vidro. Um força sobrenatural que nunca havia sentido antes.

Quando vi já foi.

Meus olhos pousaram naquela figura magnífica de dois metros de altura, com aquele cabelo de fogo que queimava minhas pupilas. A mesma imagem divina que eu tinha visto na beira da minha cama alguns meses atrás.

De repente, tudo escureceu.
E na escuridão só pensava uma coisa: "falta um real, senhora..."

22.1.10

A Garota de Vênus - Parte 5

Enfiei a chave na porta depois de quatro tentativas, tamanha era minha ansiedade.
Quando abri, ela não estava.
Como assim?
Olhei para os dois lados da rua e nada.
Quando ouço:
- Aqui, sua peste!
Estava na janela do meu quarto.
Peste?! Ela me chamou de peste.
Pode até parecer estranho mas eu gostei. Achei que tinha a ver, não sei porquê.
Subi e quando entrei em casa, cadê?!
Já sei, quer brincar.
- Deve estar escondida – disse alto, pra que ela entendesse que aceitei a brincadeira.
Atrás da porta: não.
Ao lado da geladeira: não.
No banheiro: não.
Debaixo da cama: não.
Em cima do guarda-roupa: não.
Atrás do sofá...

Sumiu.
E seus sapatos? Onde estão? Sumiram.
- Não entendo – Pensei confuso.
Olhei pela janela novamente: nada.

De repente, me olhei de fora e vira que papel ridículo tinha feito.
Falei com ninguém? Tomei uma sapatada nas costas de ninguém?
Esquizofrenia?
Fiquei preocupado.
Enfim, ela não estava lá.
Devia estar sonhando acordado.

10.1.10

A Garota de Vênus - Parte 4

Já tinha completado quase um mês que tudo tinha acontecido.
Mas pra mim parecia uma ano ou mais.
Entendi a teoria da relatividade assim.
Tentava à todo custo me encher de coisas pra fazer. No geral coisas sem importância.
Só pensava em dormir. Só pensava em sonhar. Queria que tudo aquilo acontecesse de novo.

Tava sentado no computador, pensando sobre essas coisas, quando senti uma pancada aguda nas costas - nesses tempos violentos só me veio à cabeça que teria sido atingido por uma bala perdida.
Olhei pro chão e vi um sapato de salto alto. Olho pra janela em tempo de ver a cortina balançando sugerindo que o sapato passara por ali.
Subitamente corro até a janela pra descobrir quem foi o autor do “disparo”, ou autora, claro.
No sol escaldante das duas da tarde, lá embaixo, na calçada, estava a garota de Vênus de braços abertos, olhando pra mim, com um magnífico e gigantesco sorriso tipo “fatia de melancia”.
Não estava dormindo.
Me belisquei.
Não tava mesmo.
Era dia e ela estava ali na minha frente.
- Não vai abrir a porta? – Perguntou, ainda sorrindo.
Não consegui responder e saí correndo procurando a chave.
Ai!
Senti uma pontada nas costas.
Era a sapatada da venusiana.
Não a mesma. Outra sapatada.
Agora ela estava descalça.

Sorri e continuei à procurar a chave.

Esqueci...

...de pedir paz no pacotão de ano novo.

8.1.10

A Garota de Vênus - Parte 3

Nunca lembro dos meus sonhos.
Tenho algumas lembranças vagas de alguns sonhos de infância, mas picotados ou fragmentados.
Jurava que o encontro com a garota de Vênus tinha sido realidade.
Me lembro de todas as sensações: do vento no rosto, do suspiro da queda, de cada detalhe de seu corpo maravilhoso.

Mas quando abri o olho, tava deitado na porra da minha cama.
Olhei pro relógio e fazia dez minutos que tinha ido deitar.
Dez minutos!
Impossível viver tanta coisa, tão intensamente em dez minutos.
Só podia ser um sonho.
A tristeza invadiu meu corpo pelas veias como se fosse um contraste que aplicam quando vamos fazer aquele teste do estômago.
Que merda!
Foi um sonho.
Eu sempre desejei lembrar dos meus sonhos, de todos os seus detalhes, dos significados.
Ficava com inveja das pessoas que mostravam seus caderninhos com os sonhos escritos como se fossem roteiros de cinema. Cada detalhe. Cada cena linda.

Tinha que acontecer comigo?
A coisa mais importante que já aconteceu na minha vida foi sonho.
Um sonho. Detalhado.
Não existem: garota de Vênus, vale, asa de boeing, leitura de mentes.
Nada.
Foi só um sonho.

Levantei e fui tomar um copo d’água.
Precisa fazer algo.
Mas não me vinha nada na cabeça.
Só sentia as sensações me atropelando sem piedade, enquanto não encontrava uma porra de um copo limpo na pia.
Peguei um copo com resto de iogurte e enfiei na torneira. Não importava que estava sujo. Nada importava.

E por um momento desejei não lembrar dos sonhos...

5.1.10

Frases que eu gostaria de ter dito

1. Marylin, vai peidar pra lá, cacete.

2. Eu, presidente?!

3. Tô te dando porque senão vou enfiar essa grana na bunda!

4. Paul, menos Firula. George, cê tá dormindo?! Ringo, pára de rir, caralho!

5. Sei lá... Vou conversar com o meu empresário.

6. Sei lá... Vou conversar com a minha esposa.

7. Que horas é seu jogo, filho? 7 da manhã, Pelé?! Mas que merda!

8. Preciso engordar.

9. Se o Almodóvar for eu não vou!

10. Quem é Almódovar, caralho?!
Nunca mais fico sem escrever no meu blog.
E isso não é uma promessa.

A Garota de Vênus - Parte 2

Enquanto chorava, ela olhou no fundo dos meus olhos e, de repente, me soltou.
Me lembro de ter pensado, rapidamente:
- Não acredito que ela fez isso comigo...
Mas fez.
Por um instante veio aquele frio do montanha-russa.
Por uns dois instantes fiquei com aquele frio de montanha-russa.
E quando abri os olhos eu tava voando.
Tive a impressão que tinha asas no lugar dos braços.
Mas quando olhei pros lados meus braços continuavam lá. Intactos.
Então pensei:
- Eu tô voando com meus braços!
E numa atitude idiota, típica da minha pessoa, passei a chacoalhar os braços insandecidamente, com o maior sorriso que eu já pude dar e soltando o maior grito que um homem já soltou.

Quando saí desse “quase” transe, estava em pé, num vale.
No vale mais lindo do mundo.
Então, chorei de novo.
Só que dessa vez parece que o choro vinha de um lugar que eu não conhecia.
Um lugar, dentro de mim, que eu nunca tinha visitado, nem passado perto.
Um lugar desconhecido dentro de mim que jamais imaginei que pudesse existir.
Sabia que, à partir daquele momento, minha vida jamais seria a mesma.
Não saberia explicar o porquê e, sinceramente, até hoje não sei porque minha vida mudou.
Mas...
Sabe quando você sabe?!

Quando ia me perguntar onde estava a garota venusiana, senti uma respiração atrás da orelha. Senti aquele cheiro de cachorro maravilhoso e sabia que ela que estava ali.
- Aqui vai ser a minha casa. – Ela disse.
Pensei:
- É o lugar mais lindo do mundo.
- É o lugar mais lindo do mundo mesmo. – Respondeu ouvindo o meu pensamento.

Pela primeira vez desde que tinha encontrado a venusiana me senti à vontade de perguntar algo:
- Você não gosta de Vênus?
Ela respondeu:
- Gosto. Mas lá não existem pessoas. E eu gosto de pessoas.
- Quer morar comigo? – Perguntei.
Ele fez um silêncio e não me respondeu.
Hum...
Me veio uma sensação de ter feito merda...

A Garota de Vênus - Parte 1

Quando eu acordei, ela já estava na beira da cama.
Parecia ter um metro e oitenta de altura.
Não: hum e noventa.
Sei lá, acho que uns dois metros.
O cabelo era tão amarelo que parecia um pequeno Sol no meu quarto.
Suas pernas eram tão compridas que pareciam que iam socar sua cabeça no teto.
Algo se mexeu nas suas costas mas não consegui ver o que era.
Uma espécie de pele ou tecido especial revestia todo seu corpo sinuoso.
Fiquei imóvel. De medo e deslumbramento
Era uma figura imponente e não relutei: fiquei parado sem fazer nada.
E ela também. Apenas me observando.
Depois de horas parados, ela fez um pequeno movimento lateral de cabeça e me olhou da maneira mais meiga que alguém já olhou pra mim.

À tempo: digo ELA porque ELA possuía duas saliências no seu tórax que se não fossem os seios mais lindos que já vi não sei o que seriam.

Olhou pra mim e disse:
- Sou de Vênus.
Pensei:
- Que legal.
Veja bem, pensei.
Então ela disse:
- Que bom que você acha legal.

Ela lia mentes.
Eu estava em frente à uma extraterrestre venusiana gostosíssima, simplesmente divina e que lia mentes.
Mas não consegui me mover. Permaneci estático. Parado. Travado.
Não consegui pronunciar uma palavra. Nada.
Por um momento, notei que nem respirava.

- Conhece Vênus? – Ela perguntou.
- Só de nome. – Respondi da maneira mais idiota que uma pessoa pode responder.
- Gostaria de conhecer?
Meio gaguejando eu respondi:
- Bem, é que amanhã eu tenho um reunião e...

E antes que eu terminasse de falar, duas asas gigantescas do tamanho das de um Boeing me arrancaram da cama.
Nunca havia sentido isso antes.
Parecia que estava coberto por quilômetros e quilômetros de edredons com cheiro de lavanda e, pasmem, cheiro de cachorro.
Então percebi que a venusiana cheirava à animal. Um cheiro bom de animal. Um cheiro de terra e bicho que jamais imaginei que uma venusiana pudesse ter, sem levar em conta que nunca havia pensado que venusianos existiam.

Estava perdido nesses pensamentos, quando ela me chamou a atenção:
- Olha pra baixo!
Olhei. Meus olhos emudeceram. E chorei.

3.1.10

O colecionador de lágrimas

Ele dizia que a amava.
Ela dizia:
- Sei...
Ele não sabia o porquê.

Tentou de novo:
- Eu te amo.
Ela:
- Sei...
Lembrou do filme GHOST.
- Idem...

Mas tanto amor não iria acabar porque ela só dizia:
- Sei...

Depois de anos falando, num dia qualquer, como de costume, ele soltou:
- Eu te amo.

Silêncio.

Ela não disse nada.
Uma lágrima escorreu do rosto dela como se fosse uma resposta.

Desde então, nunca mais ele ouviu aquele:
- Sei...

Frequentemente escorria uma lágrima do rosto dela.
Após um gesto.
Um carinho.
Uma palavra bonita.
Sempre escorria uma lágrima.

Ele passou a colecioná-las.

Mas até hoje ele não sabe o que significava aquele:
- Sei...

Mas vira-e-mexe ele diz:
- Eu te amo.