2.2.17

Apareço por aqui somente na desgraça: 2011 foi o último post.

Isso prova que fui feliz nos últimos anos.
Sim, sem grandes desgraças e com lindos momentos.

As palavras proliferam na minha cabeça quando estou em queda. As palavras caem comigo.

Estou em queda.
Como um gato que cai muitas vezes e aprende que vai se foder mas, com a experiência, se fode menos.

Sinto que caio com mais dignidade hoje - se é que há dignidade nisso.

Sei que ossos se quebrarão.
Algumas costelas.
Mas se tratando de uma grande queda, estou no lucro.

Sou muito jovem pra morrer e vou precisar de gás pra cair outras vezes.
E cairemos todos, não se engane.

Caiamos, amigos.
Com dignidade - se é que há dignidade nisso.





12.12.11

Tenho medo que ela carregue o que sentiu de mim no último encontro.
E te digo, amigo: não foi muito bom.
Vi em seu olhar que sentia vergonha.
Me via como algo estranho.
E então tudo ficou estranho.
A voz doce sumiu. O olhar fugiu. E as piadas cessaram.
Tudo o que foi já não era mais.
E fui embora com o rabo entre as pernas.
Fui embora com o medo de voltar.
Espero que ela não carregue o que sentiu de mim no último encontro.
Sou mais que o último encontro.
Sou a possibilidade do próximo encontro.

19.10.11

Eu costumo dizer que por falta de diálogo guerras nascem.
Tô errado?!
Pesquise sobre os maiores confrontos da humanidade.
O choque de idéias é natural ao homem.
O choque é sadio.
O debate de idéias, ao mesmo tempo, é fundamental.
O silêncio só é bom na paz.
O silêncio dentro de um conflito corroe, preocupa e seca.
Eu só queria falar à respeito.
Mas a respeito.


31.8.11

Hotel Denver

E foi assim:
Acabei no Hotel Denver.
Sem merecer.
Mas merecendo.

Não tenho sido um bom amor pra quem amo.
E fui castigado por isso.
Eu acho que o Hotel Denver é uma espécie de castigo.
Sabe aqueles castigos pra gente pensar? Então, tipo isso.

Deixei meu amor na saudade.
Cheguei em casa sem chave.
Fui pra rua encontrar um lugar pra dormir e choveu.
Esperei a chuva passar e não passou.
Encontrei o Hotel Denver.

Estou aqui. Digitando. Pensando. Já me coçando.
Esperando o dia amanhecer pra fugir do Denver.
Antes eu fosse bom pro meu amor.
Assim, o Hotel Denver jamais apareceria na minha vida.

25.7.11

24.7.11

A Floresta de Maria


José amava Maria.
Muito.
Sentia uma dor no peito de tanto amar. Uma dor de amor.
Ele adorava dizer coisas bonitas pra ela.
Gostava de dizer o que sentia.
Mas ela não gostava de ouvir.
José não entendia.
Talvez ela não sentisse o mesmo e tivesse vergonha por não sentir.

Mas José não se importava.
Pra ele, bastava ele sentir.
Em algum momento dessa história, não pôde mais dizer nada pra ela.
José se encolheu. Se reprimiu.
Não podia expressar o que sentia.
José se diminuiu e quase sumiu do mapa, de tão pequeno que ficou.

Um dia, teve uma grande idéia:

- Já sei! Cada vez que eu sentir vontade de dizer algo bonito pra Maria eu planto uma árvore! Ou uma flor! Boto alguma coisa na terra! E não incomodo mais Maria com as minha tolices!

Pois foi assim!
A cada "eu te amo" não falado uma árvore nascia! Ou uma flor. Dependia do dia.

Passaram-se anos.
E no lugar dos entulhos no fundo do quintal, nasceu uma bela floresta com árvores, flores e ervas.

Às vezes, no fins de tarde, quando José chega do trabalho, Maria está sentada no velho banco de madeira tomando um chá.
Ele fica irradiante ao vê-la desfrutando do mundo que ele criou pra ela.

José não sabe se Maria sabe que a floresta é dela.
Talvez, algum dia, Maria saiba que a floresta é dela.
Talvez ela descubra que José criou um mundo pra ela.
Talvez não.

O que importa pra José é que os "eu te amo" continuem a nascer.
Mesmo que em forma de árvores.



23.6.11

22.6.11

Fiquei com medo de atender o telefone.
- Olha, desculpa, não volto mais.
Achei que ela fosse dizer isso.
Ok.
Vou ligar de volta.

11.6.11

Só pra não ver seu olhar escapar

Sou míope.
Não enxergo muito bem à distância.
Já tentei usar alguns óculos.
Fiz alguns.
Perdi outros.
Mas no geral nunca uso.
Acho que me acostumei a não enxergar à distância.
Mas de perto enxergo muito bem.
Não tenho problemas.
No raio de 2 metros enxergo tudo. Até 3 metros.

Você tava a menos que isso.
Uns 50 centímetros.
E eu vi: você não olhava pra mim.
Era um olhar "escapado".
Sabe?! Que escapa.
Olhar em fuga.
Eu vi. E de perto enxergo bem, hein!
Se você estivesse longe eu poderia me confundir:
- Que bosta de miopia! Será que ela tá me olhando?!
Mas não!
Você estava a 50 centímetros. Talvez menos.
Um olhar que fugia.

E por um momento desejei ter hipermetropia.
Trocaria minha miopia.
Só pra não ver seu olhar me escapar.

Tô feliz e triste. Ao mesmo tempo.

6.6.11

O ronco

Quando eu olhei pro lado ela tava roncando.
Juro!
Pense numa mulher linda.
Uma beldade.
Corpo perfeito.
Humor único.
Sabe aquela pessoa que você quer ter ao seu lado o tempo todo?!
Então...
Ela tava roncando!
Ronco mesmo!
Grosso.
Rude.

Eu achei bonito. Até.
Um charme.

Tendenciosamente, tenho a mania de endeusar a mulher.

Foi bom ouvir seu ronco.
Oriundo de uma provisória gripe típica de outono.
Foi bom.

Gosto dela mesmo assim.
Com ordens e roncos.
Sim, ela dá ordens.
E ronca.

Amém!


2.6.11

Amar é tipo comprar um All Star novo: não tiro do pé.
E o outro da alma.
Pelo menos pra mim.

40 minutos: sem pontos, nem vírgulas

Saí da Rua da Consolação do lado do Jardins entrei na Alameda Santos bem na esquina tem um bar onde o pessoal tava terminando de assistir o jogo do Santos e duas meninas tavam cantando uma música do pessoal do Clube da Esquina não sei quem era tipo um Flávio Venturini e lembrei que não gosto deles continuei andando e entrei na Rua Bela Cintra e atravessei a rua fora da faixa coisa que não se dever fazer pela primeira vez reparei que tinha um ponto de ônibus ali um rapaz desceu e começou a correr em direção à Avenida Paulista mas antes ele deu uma tropeçada mas não parou cheguei na Avenida Paulista e entrei à direita não gosto dessas novas luzes brancas da avenida e lembrei que não gosto de luzes brancas e lembrei também que troquei todas as luzes brancas da minha casa por luzes amarelas deixam o ambiente mais feliz e antes de entrar na Rua Augusta sentido centro um cara me ofereceu um panfleto ele era cabeludo e tinha uns 50 anos e reparei no panfleto que tinha um logo do Teatro Tuca e lembrei que fiquei em cartaz lá a essa hora eu já estava descendo a Rua Augusta passei em frente ao Sarajevo que é uma balada de um amigo meu e reparei que não tem nenhuma identificação na porta pensei como ele consegue sobreviver com uma balada que não tem identificação mas consegue e eu acho isso do caralho continuei descendo e fechei mais um botão do meu casaco que eu gosto bastante e lembrei que eu comprei em Berlim e fiquei feliz de lembrar da viagem que fiz ano passado alguém me pediu uma grana também em algum momento e continuei descendo porque eu moro lá no começo da rua passei em frente a todos os puteiros Vegas e tal e tinha uma viatura da CET colocando uma placa na faixa de pedestres dizendo espere o sinal verde pedestre mas achei melhor atravessar assim mesmo porque o farol tava quebrado nem verde nem vermelho senão ia ficar o tempo todo lá nessa altura eu já estava na rua de casa quando vi um rato a uns 5 metros na minha frente correndo em direção ao bueiro e pensei como deve ter ratos no subterrâneo da cidade tinha uns pedreiros trabalhando na obra ao lado de casa e já era mais de meia-noite então cheguei em frente ao prédio cumprimentei o porteiro que é amigo e disse que ia dormir subi sentei na mesa abri o computador e comecei a escrever tudo isso sem ponto nem vírgula porque nesses quase 40 minutos andando até em casa a cada ponto final a cada pensamento a cada virgula eu pensava nela e continuo pensando pensando que não devia deixá-la mas ficar perto dela.
Eu penso nela o tempo todo.
Sem pontos.
Nem vírgulas.

Estabanado.


Mas me fala de você.
Quando ama fica estabanado?
Tenta fazer certo e faz errado?
Você se sente como um personagem do Woody Allen?
Sente que não é suficiente?
Sente que o outro não sente como você?
Sente que tudo pode dar errado?

Me fala de você.
Quando ama dá frio na barriga?
O olho lacrimeja de felicidade?
Diz toda a verdade?
Quer proteger a qualquer custo?
Custe o que custar?
Se assusta de tanto amar?
E fica pensando em não errar?

Fala de você.
Onde você tava?
Onde você tava todo esse tempo?
Não hoje.
Nos últimos dias.
Meses. Anos.
Onde você tava?
Fala.
Me explica porque você me deixa estabanado?




26.5.11

Olhos esbugalhados e vermelhos dão sono.

Miojo e lágrimas.

Então, ele começou a chorar em cima do miojo.
Suas lágrimas começaram a se misturar à água fervendo.
Suas lágrimas ferviam junto àquela massa instântanea.
Tudo porque ela havia dito que "seguia o sol da cidade à procurá-lo."
Havia tempo não ouvia nada parecido.
Algo tão bonito.
Tudo bem! Ela emprestara de uma canção de um compositor famoso.
Mas pouco importava.

Outros versos se sucederam:
"Eu bem sei onde tudo vai parar..."
Ou: "Trago nesses pés o vento pra te carregar daqui..."
E mais lágrimas inundaram o miojo.

Ele só pensava em fazê-la feliz.
Daria toda sua felicidade pra ela - se fosse possível!
Viveria como um poeta do seçulo 19: com tuberculose e escrevendo sobre as dores do mundo.
Tudo pra vê-la com um sorriso eterno.

Não! Ela não foi embora!
Ela disse que só foi ali e já volta.

Mas entre idas e vindas, ele derruba lágrimas no miojo com medo que ela não volte.

Ela oferece versos bonitos.
Ele, macarrão com lágrimas.
E juntos escrevem uma história.

À propósito: o jantar está na mesa.





19.5.11

Medida.

O difícil é encontrar a medida.
Por que é assim:
Quando você vai muito é muito.
Quando vai menos é menos.
Se vai mais ou menos é mais ou menos.
E essas equações devem conjuminar com as outras equações que vem do outro lado.

Explico:
Se você vai muito e a outra pessoa vai menos é pressão.
Se você vai menos e a outra pessoa vai menos não dá em lugar nenhum.
Se você vai menos e a outra pessoa vai mais é desatenção.
Se você vai muito e a outra pessoa também é divisão de aluguel.
Se você fica no mais ou menos e a outra pessoa também é tudo mais ou menos mesmo.
E ainda tem as pequenas nuances entres esses mais e menos.

Fica complicado.
Tô achando que não tem medida mesmo.
Nunca vai ter.
O lance é relaxar, alugar um filme e fazer uma massa.

Em tempo: o molho? Tempere a gosto. Sem medida.



14.5.11

Prazer, meu nome é Saul

Confesso que aconteceu há muito tempo. Não me lembro a data exata porque as datas me fogem.

Mas faz tempo que quis Maria. Desde a primeira vez que a vi.

Maria tem um jeito de andar, meio frágil, inigualável. Me lembro que tive vontade de dar colo, tamanha fragilidade.

Espiava ela de longe. Tinha um pouco de medo. Afinal, a timidez é minha sombra.

Mas gostava de espia-la.

Sonhava um dia colocá-la no meu colo.

Um dia sonhei que tava numa colina íngrime. Estava no alto dela. Maria passeava procurando alguma coisa no chão. Não me importava o que era. Me importava contempla-la.

No corte seco do sonho, ela estava deitada em meu colo. Nós dois na colina. Eu mexendo em sua cabeça. Ela adormecida. Esse foi um sonho.

Na realidade, sempre achara impossível a concretização desse sonho. Maria parecia inatingível. Intocável. Inatingível.

Então, descobri que acabara de chegar um forasteiro na cidade que havia cortejado Maria quando ela passeara no estrangeiro. Um estrangeiro?

- O que eles tem demais ou a mais, Saul?! - me disse um amigo.

Perdão, esqueci de me apresentar. Meu nome é Saul.

É um nome bíblico mas não sou religioso. Talvez espirituoso.

Não sei a magia que tem um estrangeiro.

Mas respeitei Maria e deixei de espia-la.

Fugi de seus olhares.

Evitei seu cheiro.

Transformei Maria numa amiga querida.

E se passaram longos meses...

Até que o estrangeiro foi embora.

Continua...

2.5.11

Algumas considerações

1. Sim, tenho pressa. Estou prestes à completar 36 anos. Se eu tiver um infarto será fuminante. E não terei conhecido a Disney, por exemplo.
2. Não, não tenho pressa. Gosto de olhar pros lados, pra cima, pra baixo. Saber onde tô pisando. Devagar e sempre. Para o alto e avante. Dentro e fora. Ops, isso é outra coisa.

Continua.

Então...

Sabe quando você vê um brigadeiro e tem vontade de levar de presente?
Sabe quando você quer ligar pra saber a opinião?
Sabe quando faz falta?
Quando a simples presença é suficiente?
Então...

24.3.11

Te dou meus anjos
































Te mando meus anjos porque não preciso muito deles aqui.
Eles farão um serviço melhor cuidando de você.
Eu tô velho.
Os velhos não precisam de anjos.
Te dou os meus.
Quero que você seja escoltada nos seus sonhos.
Protegida dos pesadelos.
Cortejada em seu sono.
Quero que se sinta bem no backstage.
Eles vão te proteger.
Eu sei.
Eles são bons.
Te dou meus anjos.
Quero que eles te protejam.
Te mando meus anjos.
E que alguém me proteja.