14.5.11

Prazer, meu nome é Saul

Confesso que aconteceu há muito tempo. Não me lembro a data exata porque as datas me fogem.

Mas faz tempo que quis Maria. Desde a primeira vez que a vi.

Maria tem um jeito de andar, meio frágil, inigualável. Me lembro que tive vontade de dar colo, tamanha fragilidade.

Espiava ela de longe. Tinha um pouco de medo. Afinal, a timidez é minha sombra.

Mas gostava de espia-la.

Sonhava um dia colocá-la no meu colo.

Um dia sonhei que tava numa colina íngrime. Estava no alto dela. Maria passeava procurando alguma coisa no chão. Não me importava o que era. Me importava contempla-la.

No corte seco do sonho, ela estava deitada em meu colo. Nós dois na colina. Eu mexendo em sua cabeça. Ela adormecida. Esse foi um sonho.

Na realidade, sempre achara impossível a concretização desse sonho. Maria parecia inatingível. Intocável. Inatingível.

Então, descobri que acabara de chegar um forasteiro na cidade que havia cortejado Maria quando ela passeara no estrangeiro. Um estrangeiro?

- O que eles tem demais ou a mais, Saul?! - me disse um amigo.

Perdão, esqueci de me apresentar. Meu nome é Saul.

É um nome bíblico mas não sou religioso. Talvez espirituoso.

Não sei a magia que tem um estrangeiro.

Mas respeitei Maria e deixei de espia-la.

Fugi de seus olhares.

Evitei seu cheiro.

Transformei Maria numa amiga querida.

E se passaram longos meses...

Até que o estrangeiro foi embora.

Continua...

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