Confesso que aconteceu há muito tempo. Não me lembro a data exata porque as datas me fogem.
Mas faz tempo que quis Maria. Desde a primeira vez que a vi.
Maria tem um jeito de andar, meio frágil, inigualável. Me lembro que tive vontade de dar colo, tamanha fragilidade.
Espiava ela de longe. Tinha um pouco de medo. Afinal, a timidez é minha sombra.
Mas gostava de espia-la.
Sonhava um dia colocá-la no meu colo.
Um dia sonhei que tava numa colina íngrime. Estava no alto dela. Maria passeava procurando alguma coisa no chão. Não me importava o que era. Me importava contempla-la.
No corte seco do sonho, ela estava deitada em meu colo. Nós dois na colina. Eu mexendo em sua cabeça. Ela adormecida. Esse foi um sonho.
Na realidade, sempre achara impossível a concretização desse sonho. Maria parecia inatingível. Intocável. Inatingível.
Então, descobri que acabara de chegar um forasteiro na cidade que havia cortejado Maria quando ela passeara no estrangeiro. Um estrangeiro?
- O que eles tem demais ou a mais, Saul?! - me disse um amigo.
Perdão, esqueci de me apresentar. Meu nome é Saul.
É um nome bíblico mas não sou religioso. Talvez espirituoso.
Não sei a magia que tem um estrangeiro.
Mas respeitei Maria e deixei de espia-la.
Fugi de seus olhares.
Evitei seu cheiro.
Transformei Maria numa amiga querida.
E se passaram longos meses...
Até que o estrangeiro foi embora.
Continua...
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